Canção amiga é um poema de Carlos Drummond de Andrade em que ele expressa o ideal de construir uma poesia capaz de despertar a consciência dos adultos e servir de canção de ninar para as crianças. Em 1978, os versos se transformaram em música de Milton Nascimento e fizeram parte do disco Clube da esquina 2. Foi essa a canção escolhida para batizar a exposição em homenagem ao grupo. A mostra entra em cartaz nesta sexta-feira, 14, no Espaço do Conhecimento UFMG, na Praça da Liberdade.
A exposição tem o objetivo de contar como o grupo de jovens de Belo Horizonte surpreendeu o mundo com novos rumos para a canção popular. ”Há dois anos, o Centro de Referência da Música de Minas da Federal (CRMM/UFMG) está com a guarda do acevo da Associação dos Amigos do Museu Clube da Esquina e, desde então, passamos a trabalhar com esse material e decidimos fazer a exposição para falar desse movimento que foi tão importante para Minas e para o Brasil”, destaca o pesquisador Bruno Viveiros, curador da exposição e integrante do Centro de Referência.
O ponto inicial foi a amizade, aspecto ressaltado pelos integrantes do Clube da Esquina não só em seus depoimentos, como nas próprias composições. ”Esse vínculo afetivo é fundamental para pensar a trajetória dos artistas e de suas canções. E não só a amizade entre as pessoas, mas no sentido de ser uma maneira de pensar e de se preocupar com o outro, com o país e com a cidade”, acrescenta Viveiros.
O grande homenageado é o compositor Fernando Brant (1946-2015). Ex-aluno da UFMG, o poeta é o único dos integrantes do Clube da Esquina que não está vivo e será representado não só por suas canções, como por um objeto peculiar: sua máquina de escrever.
NATUREZA
Três esquinas compõem Canção amiga. A esquina entre a cidade e natureza retrata o espaço urbano como um lugar de encontro, de festas, e também a preocupação com a natureza e a ecologia muito presente nas parcerias entre Ronaldo Bastos e Beto Guedes, como Sol de primavera e O sal da Terra. Outra esquina tem como tema a realidade e a utopia e aborda a restrição da liberdade e as questões políticas presentes em Nada será como antes e Fé cega, faca amolada (ambas de Milton e Ronaldo Bastos), Saudades dos aviões da Panair (parceria de Bituca com Fernando Brant). Já a esquina da infância e da transcendência representa, ao mesmo tempo, o sagrado, o divino, os mistérios inexplicáveis e as brincadeiras de criança, o quintal de casa, o passeio pelo interior. Entre as músicas escolhidas para esse tema estão Paixão e fé (Tavinho Moura e Fernando Brant), Cálix bento (Tavinho Moura com letra adaptada de folia de reis do Norte de Minas) e Bola de meia, bola de gude (Milton Nascimento e Fernando Brant).
A exposição ocupa o segundo e o quinto andares do Espaço. No Planetário, haverá a exibição de um vídeo. Na Fachada Digital, uma projeção exibe as artes de LPs da década de 1970 produzidos por artistas do Clube da Esquina. O módulo da Discoteca está no quinto andar, onde três bancos guardam a história dos LPs famosos da época. O visitante pode se sentar e descobrir os sons que tiveram influência sobre os músicos mineiros. Os bancos reproduzem as capas dos discos em formato real. No mesmo andar, o Jogo dos Cubos propõe um quebra-cabeça com essas imagens. De um lado, o cubo apresenta a capa de Clube da Esquina e, do outro, traz informações sobre as biografias dos músicos. É preciso montar corretamente as peças para formar a capa ou chegar às curiosidades sobre os artistas.
UTOPIA Uma das seções da mostra, Som Imaginário oferece ao público uma audição revisitada de canções do Clube da Esquina que abordam temas relevantes do movimento: transcendência, infância, natureza, cidade, realidade e utopia. ”A produção das canções foi realizada no estúdio da Escola de Música da UFMG com a participação de alunos, professores e convidados – Toninho Horta, Tavinho Moura, Túlio Mourão e Titane. Com a gravação em seis canais, os instrumentos e as vozes ficaram mais definidos, sendo melhor reconhecidos e apreciados. Quem conhece e quem não vai pode ter um apanhado do que representou esse movimento tão relevante da nossa cultura”, diz Bruno Viveiros.
CANÇÃO AMIGA – CLUBE DA ESQUINA Exposição de objetos e instalações. No Espaço do Conhecimento UFMG (Praça da Liberdade, 700, Funcionários), de terça a sexta, das 10h às 17h; sábado, das 10h às 21h; domingo, das 10h às 17h. Entrada franca.
CARTOGRAFIA DE BH Museu Histórico Abílio Barreto (MHAB) inaugura também nesta sexta a exposição Belo Horizonte – Cartografia de uma cidade planejada, com parte do importante acervo da Comissão Construtora da Nova Capital (CNCC). Com ênfase na cartografia, a coleção exposta traz mapas, panoramas e cópias heliográficas de edifícios públicos e privados datadas do período de construção da cidade. O acervo da CCNC abrange o período de 1890 a 1903 e foi tombado em 2015. É composto de documentos e imagens de vários tipos que registram as atividades da equipe que planejou e construiu a capital do estado. A exposição tem curadoria da pesquisadora Maria do Carmo de Andrade Gomes e integra a 27ª International Conference on History of Cartography. Belo Horizonte – Cartografia de uma cidade planejada fica aberta de terça a domingo, das 10h às 17h (quartas e quintas, até 18h30). Museu Histórico Abílio Barreto (Av. Prudente de Morais, 202, Cidade Jardim, (31) 3277-8573). Entrada franca
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