Deficiências, forças, fragilidades e potências do corpo humano são abordadas pela mineira Brisa Marques, de 35 anos, no videopoema O corpo que habito. “A arte está aí para representar, e é isso que me mantém em movimento e viva. Talvez seja ainda mais necessário que a gente se veja como seres capazes, que estão muito além daquilo que é o corpo”, defende a artista. O videopoema será lançado nesta segunda (7), às 20h, no canal da artista no YouTube.
O projeto mostra a relação de Brisa com o próprio corpo e com o mundo. “Tenho uma lesão medular e ando de muleta. Então, tenho tentado trazer a deficiência de maneira natural, que é como sinto o mundo. Tento abordar a temática do meu corpo deficiente, como o corpo do mundo, que é nosso,”
Ela explica que seu processo de criação é demorado e complexo. “É muito aprendizado, mas isso não significa que é fácil. Tenho tentado mover o inamovível por meio da arte, sensibilizando o insensível. Mas tudo depende da perspectiva do olhar.”
Brisa revela que, às vezes, se incomoda com o modo como algumas pessoas tentam abordar a deficiência dela. “Vivemos em um mundo diverso, cheio de falhas e fracassos. Isso não significa que a gente também não viva em um mundo alegre, feliz, potente e possível. O universo é complexo, não somos apenas eficientes ou deficientes.”
Para a criação do videopoema, Brisa contou com a ajuda de Carolina Corrêa e Leandro Miranda. “Gravamos em um lugar bem aberto, na natureza, seguindo os protocolos de segurança, porque quando a gente se observa a partir do espaço, a gente se vê como esse organismo vivo que é a Terra.”
As gravações ocorreram em 2 de novembro, Dia de Finados. “Foi simbólico, porque, para mim, (o vídeo) tem a ver com renascimento. Para uma semente germinar, ela primeiro tem que morrer. Então, foi uma espécie de trabalho de cura, regeneração, um ritual”, explica.
Apesar de acreditar que a performance presencial possibilita maior interação com o público, Brisa está feliz com o lançamento on-line. “A videoperformance chega neste momento em que ela se transforma em um objeto artístico, tem um fim e vira um produto pronto”, diz.
Brisa sempre foi apaixonada por estudar diferentes expressões artísticas. Neste período de isolamento social, ela se sentiu ainda mais atraída pelo audiovisual e pela performance. Por isso, quando foi aprovada no edital de urgência Arte Salva, do governo de Minas, decidiu colocar em prática aquilo que pesquisava.
“A performance é um caminho com o qual me identifico muito. Ela está em um lugar muito híbrido entre a vida e a arte, é uma linha tênue. São dois lugares que se misturam o tempo inteiro, quero cada vez mais olhar para a vida como se fosse a arte”, explica.
Este mês, ela pretende lançar outro videoperformance. “Minha ideia é fazer vários vídeos, uma espécie de singles de poemas audiovisuais”, conclui, observando que seu trabalho nasce a partir da palavra.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Tetê Monteiro
Fonte: https://www.em.com.br/app/noticia/cultura/2020/12/07/interna_cultura,1217941/em-videopoema-brisa-marques-expoe-fragilidades-e-potencia-do-corpo.shtml