entrevista por Rafael Donadio
Perto de completar um ano do lançamento do EP homônimo, Zé Bigode disponibilizou nas plataformas digitais o primeiro álbum da carreira, “Fluxo”. As influências do afrobeat, baião, maracatu, samba e rap, já muito presentes no trabalho de 2016, juntaram-se, ainda com mais peso, ao jazz. Não só no estilo musical, mas também na forma, no improviso.
Agora tente imaginar gravar com nove músicos, de uma forma que se prestigie, acima de tudo, o improviso. Sim, foi penoso. O jeito foi colocar todos esses marmanjos, juntos, dentro da sala 1 do Estúdio Cia dos Técnicos, em Copacabana, antigo estúdio da RCA. Foram dois dias e mais uma pequena reserva para algumas horas, em um terceiro dia, para uma surpresa inesperada.
A banda formada por Zé Bigode (guitarra), Daniel Bento (baixo), Eric Brandão (bateria), Jayant Victor (guitarra), Victor Lemos (sax alto e tenor), Thiago Garcia (trompete), Rodrigo Maré (timbal, percussão), Bruno Durans (bongas) e Pedro Guinu (Rhodes, piano, clavinete, moog, orgão) contou ainda com os convidados Belle Nascimento, Alexandre Berreldi, Eduardo Rezende, Reubem Neto, Ingra da Rosa e Victor Hugo.
A atriz e escritora carioca Ingra é quem pede licença logo nos primeiros segundos e chama os ouvintes para o caminho aberto pelas oito músicas instrumentais que compõem o trabalho, que seguem o vento, firmam os tempos, plantam a fé e conduzem o fluxo que a banda toca. Zé Bigode é responsável pela composição de sete faixas. “Marijuana, Mon’ Amour” foi composta pelo flautista Fernando Grilo, que faleceu no fim de 2015 e, segundo o guitarrista, foi uma grande referência de como continuar fazendo as coisas, mesmo quando o sistema não está do nosso lado.
O motivo do apelido Zé Bigode está na cara e foi dado ao compositor e instrumentista carioca José Roberto Rocha na época em que tocava no projeto Ludi Um e As Cabeças. “Na hora de apresentar a banda, o Ludi achava estranho ser só Zé. Como eu tinha um bigodinho, ficou fácil: Zé Bigode. Quando a banda se desfez eu achei bacana manter”, relatou o músico.
A música sempre esteve presente na vida de Rocha, desde quando começou a tocar de “orelhada” aos 13 anos de idade. O lance de fazer da música profissão veio depois que começou a estudar formalmente, há cinco anos, com 21. Mas o verdadeiro estalo surgiu com o jazz e outros estilos. Foi aí que ele viu que a música ia muito além das coisas que escutava quando moleque.
Apesar da preferência pelo tocar, Bigode sempre trabalhou com profissões relacionadas à música. Formado em Produção Fonográfica, o carioca é sonoplasta / operador de áudio na Rádio MEC e Nacional, que fazem parte do Grupo EBC. Em conversas por Facebook e alguns e-mails, ele nos falou sobre o processo de gravação, influências diversas e de uma viagem a Cuba, a resistência de se trabalhar com arte no Brasil e outros papos. Confira.